[A partir da década de 80, intensifica uma atividade
que já vinha exercendo: fazer debates e palestras
em faculdades e universidades, teatros, clubes e, até,
em praça pública, não só na cidade
de São Paulo, mas em inúmeras cidades do interior
do mesmo Estado e do Brasil todo.]
“No ano passado fiz 150 cidades. Este ano [julho/1980],
já fiz 58. Acho que é muito mais importante
você transmitir pessoalmente a sua experiência
para o povo do que passar tudo somente através da arte.
Eu sou povo, e com ele me sinto em casa.”
“Eu era proibido em todos os ofícios que tinha
– cronista esportivo, cronista de carnaval, trabalhar
na televisão. Mas, batalhei e voltei às minhas
origens. Camelô,
vender meus livros na rua para sobreviver.” “Quando
tem palestra, aí é melhor, porque camelô
que fala vende mais.” “Sou um camelô da
literatura. Hoje [1986] posso dizer que é muito difícil
ainda. É difícil ter espaço nos jornais,
encontrar lugar para vender livro. Cheguei a ser expulso de
vários lugares. É uma brutalidade única.”
“Eu nunca fui um escritor profissional, morreria de
fome se fosse viver dos meus livros.
Teria que acabar fazendo milhares
de concessões. Mas, camelô, ah!, isso eu sou
bom. Vendo meus livros, dou autógrafos e prometo morrer
logo para valorizar. Eu sou um escritor imortal, não
da Academia Brasileira de Letras, mas porque não tenho
onde cair morto.”
[Nos debates com estudantes], “eles esperam, como todo
mundo espera, que apareça um guru, um pai, um líder.
Não que seja como eu, um cego, mas que aponte caminho.
Eles ficam muito putos da vida quando eu vou, porque eles
vão esperando que eu cague regras e eu não,
só destruo as ilusões. Agora, eu faço
questão de dizer para eles que, quando eu passo por
ali, eles não vão saber se é para gostar
ou não de mim. Uma coisa eles têm de saber. Eu
estou correndo risco por causa da palavra.”
[Em 1984, estréia um espetáculo-solo no Teatro
Eugênio Kusnet (ex-Arena): O
Palhaço Repete seu Discurso, com o qual também
se apresentaria em inúmeras cidades.] “Neste
show-palestra (ou palestra-show), o Palhaço é
um instigador, que com seu humor grosso e maldito das quebradas
do mundaréu vai desfilando casos que comprovam a absurda
rotina que os homens sérios, empolados de responsáveis,
estão levando, sem nenhuma participação
na própria história, sem nenhuma influência
no próprio destino. O Palhaço, marginalizado
por não aceitar as regras do jogo dos homens enquadrados,
não se afasta da sociedade. Permanece nas proximidades
dos cidadãos contribuintes, destruindo seus valores,
ridicularizando-os com seu humor grosso, chocando-os com sua
linguagem livre, instigando-os para a tomada de consciência,
na esperança de despertá-los para a vida. Ah,
existe tanto amor nesse maldito Palhaço...”
[Por muitos anos continuou fazendo palestras-shows para estudantes,
muitas vezes acompanhado de seu filho Léo Lama,
como num espetáculo que fizeram, em 1993: 40
Anos de Luta.]