“Começaram os ensaios. Com o Antônio Abujamra
no comando. Um dos maiores diretores de todos os tempos. Com
Lima Duarte, Walderez de Barros, Cacilda Lanuza, Ariclê
Perez. E o Túlio de Lemos de assistente de direção.
Eu sabia, e o Américo também sabia, que tudo
corria bem. E veio afinal o dia do ensaio para a censura.
Eles nos obrigaram a fazer o espetáculo como ia ser
na estréia para público. Cenário, figurino,
iluminação. Desconfiávamos que era armação
das piranhas da censura pra atingirem economicamente a produção.
E era. Esse espetáculo pra censura eu assisti. Escondido,
porque era proibida a presença de qualquer pessoa,
mesmo o autor. E era belo. Belíssimo. Mas... proibiram.
Só quem passou por isso pode dizer como é uma
sensação de frustração. Precisa
uma fibra imensa pra aguentar um troço desse.”
[No dizer de Ilka Maria Zanotto, “As circunstâncias
fizeram de
O Abajur Lilás
mais do que uma simples peça, uma bandeira.”
A classe teatral organizou várias manifestações
de protesto contra a censura da peça, e grande parte
das companhias teatrais não trabalhou, na quinta-feira,
dia 15 de maio de 1975, data da proibição da
peça. E durante as semanas seguintes, era lido um
manifesto
contra a censura, em todos os teatros, antes do início
dos espetáculos. O advogado Iberê Bandeira de
Melo, amigo de infância de Plínio Marcos, entrou
com um recurso contra a Censura. O próprio Ministro
da Justiça, Armando Falcão, reiterou a proibição
da peça, sob a alegação de que ela atentava
contra a moral e os bons costumes. O Dr. Iberê e Plínio
Marcos continuaram com a luta e foram, de instância
em instância, até chegarem ao Supremo Tribunal
Federal.]
“Perdemos em todos os lances. Perdemos. Com um, apenas
um voto favorável. Havia um homem honrado entre os
juízes. O Dr. Jarbas Nobre. Perdemos. Mas, era uma
vitória.” “Eu voltei de Brasília
certo de que tinha enchido o saco dos donos do poder. Cumpri
com grandeza o meu papel.” “Ai, eu me organizei
pro pior. E o pior veio. Muito pior do que eu imaginava: na
base do maldito ninguém-me-procura. Mas, eu era mais
eu. Editava meus livros, na base do crédito naturalmente.
E saia vendendo. E ia tocando a catraia contra a maré.”