NAVALHA NA CARNE




[Com Navalha na Carne, seria diferente. A peça estava sendo já ensaiada em São Paulo, com Ruthnéa de Moraes, Paulo Vilaça e Edgard Gurgel Aranha, sob a direção de Jairo Arco e Flexa, quando veio a proibição da Censura Federal. E só seria liberada “depois de uma batalha imensa, que começou com uma apresentação na casa de Cacilda Becker.” Cacilda morava num duplex na Avenida Paulista e havia transformado a parte superior num teatrinho. Às segundas-feiras, organizava leituras de peças, debates, convidando sempre artistas e intelectuais. Quando soube da proibição de Navalha, ofereceu esse espaço ao Plínio e ao elenco, iniciando assim um movimento nacional pela liberação da peça, colhendo depoimentos de pessoas importantes do meio artístico e cultural, que haviam sido convidadas para assistirem à apresentação.]

“Fomos depois para o Rio de Janeiro. A apresentação da peça [a portas fechadas] seria no Teatro Opinião. O Exército cercou o teatro. Proibiu a apresentação. A Tônia Carrero comprou a briga. Levou a apresentação pra uma casa vazia que ela tinha no morro de Santa Teresa. Pra despistar, fiquei dando entrevista aos jornalistas, enquanto o povo [que recebia senhas com o endereço da casa da Tônia] ia saindo sem alarde. A casa ficou lotadinha e tinha público para outro espetáculo.” [Ao final, Tônia disse que poderia liberar a peça, com a condição de ela fazer o papel. Ficou acertado, então, que ela faria a peça no Rio, e Ruthnéa faria em São Paulo. Plínio impôs uma condição: que Fauzi Arap, que havia dirigido uma montagem de Dois Perdidos no Rio, dirigisse Navalha com a Tônia.] “E Tônia liberou a peça. Foi preciso muita coragem. Precisou jogar na mesa todo seu prestígio. Precisou encarar uma briga feia com seus parentes generais. Mas, ela ganhou e estreou.