“Depois, [1963] a Cacilda e o Walmor me deram
uma colher de chá e fiz o Juca Afogado na peça
O Santo Milagroso,
do meu camaradinha Lauro César Muniz. Daí
veio
Onde Canta
o Sabiá, e eu fui para o vinagre. A crítica
me malhou bem. Peguei meu boné e fui cantar em
outra freguesia.”
“Nunca tive esse negócio de ser de um grupo,
trabalhava onde me deixavam. Como ator, como administrador,
como qualquer coisa. Eu tinha que trabalhar, viver de
uma profissão, e a minha profissão era
essa – teatro.”
Em 1965, “
com um belo time
que estava começando a carreira, fomos fazer
Reportagem de
um Tempo Mau, no Teatro de Arena. E a Censura
proibiu. Era minha primeira peça em São
Paulo. Que merda. Mais anos e anos de espera. Resolvemos
pelo menos fazer uma sessão clandestina pro pessoal
de teatro ver nosso trabalho.”
“Continuei na luta brava. De manhã, vendia
álbum de figurinha na feira, de tarde trabalhava
na técnica da Tupi e à noite fazia uns
bicos como administrador do Arena.” [Já
escrevia também, desde 1963, para o programa
TV de Vanguarda, da Televisão Tupi, SP.] “Quando
acabou o Arena Conta Bahia, no Arena, fui trabalhar
como administrador na Companhia Nídia Lycia.”
“Aproveitei então para organizar minha
nova peça,
Jornada
de um Imbecil até o Entendimento. Fomos
à luta. Ensaiamos muito, mas – porra! –
veio a censura. Mais uma vez uma peça minha era
proibida. Depois de tanto trabalho, tanto esforço.
Mas, era preciso continuar a luta.”
“Ser impedido de trabalhar, de ganhar o pão
de cada dia com o suor do próprio rosto é
terrível. Você tem a sensação
de que é um exilado no seu próprio país.
Eu sei bem como é isso. Penei. Penei muito. A
minha sorte é que nunca cortei os laços
com as minhas raízes. Fui camelô. Voltei
pra rua pra camelar. Não caí. Não
bebi. Não chorei. Nem perdi o bom-humor. Mas,
sofri mais do que a mãe do porco-espinho na hora
do parto, impedido de trabalhar. E ignorado por colegas,
que se diziam de esquerda, nas rádios e nas televisões.
Mas, deixa pra lá. Essa sujeira sai no mijo,
não tenho mágoas.”