SINOPSE

O espetáculo PRISIONEIRO DE UMA CANÇÃO é baseado em um trabalho pouco divulgado de Plínio Marcos: suas poesias e letras de músicas. As letras que Plínio Marcos escreveu para suas peças foram musicadas por seu filho, o também dramaturgo Leo Lama.

Leo Lama fez o roteiro do espetáculo, baseado nas músicas das peças: “Balada de um palhaço”, “Querô - Uma Reportagem Maldita”, “Madame Blavatsky”, “A Mancha Roxa” e em livros e poesias de Plínio, incluindo também uma poesia inédita escrita em 1990 e musicada por Leo em janeiro de 2000.

Um ator-cantor e uma atriz-cantora que recebem os nomes de Helena e Bobo Plin, personagens de Madame Blavatsky e Balada de um Palhaço, narram e cantam o roteiro escrito por Lama.

PRISIONEIRO DE UMA CANCÃO, teve uma única apresentação no dia 29 de fevereiro de 2000, terça-feira, no Teatro Popular do Sesi, às 20:30 h.


A voz do meu parceiro : “Acorda, Leo Lama, vamos tocar!”

Meu parceiro acordava de manhã com humor variado e ia logo me dizendo: “Pega seu violão que eu vou dar uma palestra numa faculdade e você vai junto tocar umas músicas!” E eu com aquele sono adolescente: “Eu não vou, você não manda em mim, eu faço o que eu quiser!” E ele berrava, fazendo um discurso sobre o artista e a força de vontade. E eu ia, vencido por aqueles berros.

E assim, foram muitas vezes: eu e ele, ele e eu contra a rapa. Ele falando, contando histórias, indignando, e eu timidamente tocando e cantando. Naquela época eu achava aquilo um pé no saco. Hoje eu sinto uma puta saudade. Saudade daquela força de vontade, daquela fibra, daqueles berros que não só me acordavam, mas também me despertavam para a Grande Arte. A voz dele era um grito de guerra contra a minha preguiça, contra as amarras do cotidiano, contra a minha covardia e minha timidez.

Hoje, ela está dentro de mim. A voz. A voz do meu parceiro que tantas vezes foi calada, e que em mim nunca se cala. A voz do meu parceiro berra no meu coração. A voz do meu parceiro canta em mim e eu sou prisioneiro dessa canção.

Acho que o meu parceiro morreu cedo demais só para valorizar o espetáculo. Mas a voz dele insiste em não morrer.

Leo, filho de Plinio, Lama.

TRADIÇÃO MUSICAL DE PAI PARA FILHO
Texto escrito para a revista da Cooperativa Paulista de Teatro
por Luciana Azevedo, atriz e jornalista


O interesse de Leo Lama pela música começou cedo. Aos 16 anos de idade resolveu mostrar a seu pai as músicas que estava compondo, juntamente com um amigo, inspiradas no estilo do famoso grupo inglês, The Beatles. A sinceridade desconcertante de Plínio não poupou o entusiasmo do filho, taxando toda aquela produção como ruim, velha e copiada. No entanto, essa mesma sinceridade que destruía, não deixava também de incentivar.

Plínio levou os rapazes na casa de um conceituado crítico musical, José Ramos Tinhorão, um grande pesquisador das origens da música brasileira, e também conhecido por polêmicas criadas com os artistas que adotavam nomes estrangeiros, como por exemplo Baden Powel. Ali, Lama teve a oportunidade de ouvir muitos discos e entrar em contato com vários ritmos, sons e influências, que enriqueceram a sua formação e lhe abriram as portas para a composição.

Motivado pelo interesse do filho pela música, Plínio Marcos começou a escrever letras para que Leo musicasse. Foi o começo de uma longa parceria. Os dois produziram uma série de canções que pontuaram algumas montagens das peças de Plínio. Juntos realizaram ainda um trabalho em faculdades e escolas, onde Plínio dava palestras e Leo cantava. Durante vários anos pai e filho viajaram e visitaram inúmeras instituições em todo o Brasil.

A experiência de tocar violão em uma sala de aula para uma massa de adolescentes rebeldes, onde os primeiros impulsos são sempre a bagunça e a brincadeira, foi o primeiro contato de Leo Lama com o palco e com as bases de um trabalho teatral, como por exemplo a necessidade do domínio cênico, o controle do público, o foco de atenção e o estar em cena.

Outro fator importante para a sua formação foi o envolvimento de Plínio Marcos com o samba tradicional paulista. Plínio, um grande divulgador da cultura popular brasileira, além de amigo de vários sambistas, era patrono de algumas escolas de samba de SP, entre elas a Pérola Negra, a tradicional escola da Vila Madalena.

Todo o amor pela música, herdado pelo pai, está conduzindo a carreira do dramaturgo para uma outra vertente. "Pretendo dedicar mais tempo da minha vida à música, à poesia e à filosofia. Para mim o teatro está chato, viciado e bem distante de uma característica transcendente. O teatro, em sua essência, é um dos símbolos mais perfeitos da manifestação universal. Mas, hoje em dia, se tornou palco de entretenimentos baratos e palanque para desgastadas reivindicações sociais. Não quero escrever peças que reclamem dessa sociedade ou que faça rir os idiotas. Quero escrever sobre a busca espiritual. Mas quem quer ouvir? A espiritualidade que eventualmente aparece nos nossos palcos é sempre um arremedo de religiosidade ou uma caricatura dos rituais Tradicionais", desabafa Lama.


ESPAÇO PARA LEO LAMA

Fauzi Arap – março/2000


Sou testemunha de que Leo Lama sempre foi um trabalhador incansável.
Mesmo nos períodos em que não aparecia na mídia e não dispunha de espaço para apresentar seus trabalhos, nunca deixou de escrever e compor quase que obsessivamente. Hoje começa a colher os frutos de sua dedicação e seriedade, e parece ter encontrado na equipe de jovens talentos que conseguiu reunir, o equilíbrio necessário para tornar públicas suas inúmeras obras. Nos últimos meses, temos podido assistir espetáculos como “O Amor de Madalena Por Jesus” e “Baudelaire, o Pai do Rock”, entre outros, que revelam seu amadurecimento como autor e diretor.Filho de dois grandes artistas, Walderez de Barros, a estupenda atriz, e Plínio Marcos, patrimônio vivo do Teatro Brasileiro, Leo é o filho de peixe que não nega suas origens. A homenagem póstuma a seu pai, patrocinada recentemente pelo Teatro do SESI, “Prisioneiro de Uma Canção” comoveu a todos que puderam assistir à única apresentação numa terça-feira anterior ao Carnaval.

O roteiro, além das canções compostas para as peças do pai, quando ainda tinha menos de vinte anos de idade, ainda em início de carreira, era formado por textos de Plínio e depoimentos de Leo sobre a parceria. Dois atores de enorme talento e belas vozes, um ator e uma atriz (Marat Descartes e Luciana Carnielli), acompanhados pelo diretor musical (Gustavo Kurlat), formavam o pequeno grande elenco, e a apresentação só veio a confirmar, para os atentos, o quanto vem amadurecendo o diretor Leo Lama, na forma cada vez mais econômica e despojada, e na plasticidade com que consegue sugerir e revelar as nuances que se escondem nas entrelinhas de seus textos.A fecunda fase de Leo, apesar dos tempos difíceis, merece todo o apoio dos órgãos competentes, para que possa desabrochar plenamente, e produzir os frutos que já se desenham e para que possamos contar com o seu talento, cada vez mais. E talvez o mais urgente e fundamental seja a conquista de um espaço, onde ele possa contar com a estabilidade mínima necessária que lhe permita desenvolver e aprofundar seu trabalho e sua arte, além de recursos mínimos para a manutenção do grupo que o cerca, e tenho certeza que tal investimento será fartamente compensado, à médio prazo, com a beleza e a agudeza de suas criações.


FICHA TÉCNICA

Textos, Letras e Poemas
Plínio Marcos
Roteiro, Arranjos, Violão e Música
Leo Lama
Com Um ator-cantor e uma atriz-cantora
Assistente de Direção
Paula Micchi
Arranjos, violão e Direção Musical
Um Violonista
Concepção e Direção Geral
Leo Lama
Iluminação Marisa Bentivenga


voltar